Professor e Engenheiro Eletrônico

  is where my documents live!

quarta-feira, 14 de abril de 2010

TRANSISTORES BIPOLARES

TRANSÍSTORES BIPOLARES (III)

7.2. A Reta de Carga (EC)

Polarização de Base

O circuito da figura abaixo é um exemplo de polarização de base, isto é, estabelecer um valor constante para a corrente de base.
Isto mesmo que mudemos o transístor e a temperatura se altere.

transistor_3_1

Por exemplo, se RB for de 1MΩ IB será de 14,3 μA.


Se βDC = 100, a corrente de colector será 1,43 mA e VCE= VCC – IC.RC = 15 V – (1,43 mA) . (3 kΩ) = 10,7 V


Portanto, o chamado ponto quiescente (Q) (quieto) ou de funcionamento em repouso (PFR) será:
IC = 1,43 mA e VCE = 10,7 V

Solução gráfica

O PFR também poderá ser obtido de forma gráfica, se tivermos a característica de saída do transístor, usando a chamada recta de carga, como se mostra na figura seguinte.


VCE = VCC – RC.IC


logo,

equação (a)

VCC – VCE
IC = —————- (*)
RC
A reta de carga é obtida representando esta equação sobre a característica de saída do transístor.

transistor_3_2

Chama-se reta de carga porque representa o efeito da carga (RC) em IC e VCE.


A maneira mais fácil de a traçar é usar os dois pontos extremos usando a equação (a)

Primeiro Ponto: (Fazendo Vce = 0)
VCE=0 –> tiramos IC = 5mA

Segundo Ponto: (Fazendo Ic = 0)
IC=0 –> tiramos VCE = 15V


da equação anterior (*) e, esses dois pontos serão suficientes para definir a reta.

A utilidade da recta de carga

A reta de carga é útil porque contém todos os pontos de trabalho possíveis para o circuito: variando IB de 0 a infinito, o transístor percorrerá todos os pontos da recta de carga.

Ponto de Saturação

Quando a RB é demasiado pequena, há excesso de corrente no colector e a VCE tende para zero. Neste caso dizemos que o transístor satura, o que significa que a corrente de colector atingiu o seu máximo valor possível.


O ponto de saturação é o ponto em que a recta de carga corta a zona de saturação das curvas de saída, isto é, no seu extremo superior.
Iremos tomar esse valor como aproximação, isto é, no nosso caso, IC=5 mA e VCE = 0, isto é, como que haverá um “curto-circuito” (imaginário) entre o colector e o emissor, pelo que ficamos com:


Icsat=VCC / RC

Ponto de Corte

O ponto de corte é o ponto é o ponto em que a recta de carga corta a zona de corte das curvas de saída, no extremo inferior (IC muito pequena)


Este ponto indica a tensão máxima que VCE consegue atingir.


Por aproximação vamos fazer IC=0 –> VCEcorte = VCC


Neste caso entre o colector e o emissor existe um circuito aberto imaginário.

Exemplo 1:

Quais são as correntes de saturação e a tensão de corte na figura:

transistor_3_3

Solução
Imagine-se um curto-circuito entre o colector e o emissor. Então:


Vcsat = 30 V / 3 kΩ = 10mA


Imagine-se agora os terminais colector-emissor em aberto. Então:


VCEcorte=30V

Exemplo 2:

Calcule os valores de saturação e corte para a figura seguinte.
Desenhe as rectas de carga para este exemplo e o anterior

transistor_3_4

Solução
Com um curto-circuito imaginário entre o colector e o emissor:


ICsat = 9V/3kΩ = 3mA


Agora, com um circuito aberto imaginário entre o colector e o emissor:


VCEcorte = 9V


Podemos então desenhar as duas rectas de carga.

transistor_3_5

Exercício 1:

Quais são a corrente de saturação e a tensão de corte na figura seguinte:

transistor_3_6

Exercício 2:

Calcule os valores de saturação e corte para a figura seguinte. Depois desenhe as rectas de carga deste e do exercício anterior e compare-as.

transistor_3_7

- conclusão: quanto menor for RC, mais inclinada é a recta de carga.

7.3. O Ponto de Trabalho

Exemplo da figura seguinte

transistor_3_8
Depois de traçar a recta de carga, como já aprendemos, podemos calcular IB.


Imaginemos, por agora, o transístor ideal –> VBE = 0V


Então:

IB = 15 V / 500 kΩ = 30 μA


Se o ganho de corrente for, por exemplo, βDC=100, teremos:


IC = 100 . (30 μA) = 3 mA


Esta corrente, ao circular pelos 3 kΩ, produz uma tensão de 9V na resistência de colector, pelo que:


VCE = 15 V – (3 mA) . (3 kΩ) = 6 V


Marcando estes pontos de IC e VCE no gráfico, ficamos com o ponto Q.


transistor_3_9

Porque é que o ponto Q varia?


Se IB é constante e, de fábrica, os βDC podem variar muito para o mesmo modelo, corremos o risco de o transístor entrar em corte ou saturação.


A figura anterior representa o caso em que βDC é de 50 (QL) e 150 (QH) em vez dos 100 de catálogo, o que é perfeitamente possível.


Conclusão: A polarização de base é muito sensível ao ganho de corrente do transístor (βDC) e este é muito variável mesmo para o mesmo modelo.

As fórmulas:

As fórmulas para calcular o ponto Q são as seguintes:
VBB – VBE
IB = ——————-
RB

IC = βDC . IB

VCE = VCC – RC. IC

Exemplo 1:

Suponha que a resistência de base na figura (**) aumenta até 1MΩ. Que sucede com a tensão colector-emissor se βDC valer 100?


Solução:


Continuando a considerar, a corrente de base diminuirá até 15 μA, a corrente de colector diminuirá até 1,5 mA e a tensão colector-emissor aumentará até


VCE = 15 – (1,5 mA) . (3 kΩ) = 10,5 V


7.6. Polarização de Emissor

É a usada quando se pretende usar o transístor como amplificador, devido aos problemas que vimos com a polarização de base, pois esta polarização de emissor consegue aquilo que os amplificadores precisam: um ponto de funcionamento em repouso (Q) constante, mesmo perante a grande variação de βDC dos transístores do mesmo modelo fabricados em série.

Ideia Básica

A fonte de polarização de base aplica-se directamente à base.
O emissor não ficará directamente ligado à massa mas sim através de uma resistência de emissor RE.
Assim, VE = VBB – VBE

transistor_3_13

Como achar o ponto Q
Vejamos o exemplo da figura seguinte

transistor_3_14

VE = 5 V – 0,7 V = 4,3 V
usando a lei de ohm para calcular a corrente de emissor:
4,3 V
IE = ———— = 1,95 mA
2,2 kΩ

Isto supõe que, em muito boa aproximação, IC = IE


Quando IC circula por RC produz uma queda de tensão de 1,95V, pelo que:


VC = 15 – (1,95 mA) . ( 1 kΩ) = 13,1 V


e


VCE = 13,1 V – 4,3 V = 8,8V


Assim, o Q terá como terá como coordenadas:


IC = 1,95 mA e VCE = 8,8 V

O circuito é imune às alterações do ganho de corrente


Vejamos agora de onde vem a importância da polarização de emissor e como imobiliza Q face a variações de βDC


Vejamos os passos que aplicámos para calcular Q:


. Obter a tensão de emissor
. Calcular a corrente de emissor
. Achar a corrente de colector
. Calcular VCE


Em nenhum ponto houve necessidade de usar βDC no processo, ao contrário da polarização de base (confirme atrás).


A corrente fixa agora é IE (quase igual a IC), ao contrário da polarização de base em que a corrente fixa era a de base e IC = βDC . IB

Exemplo 1:

Qual é a tensão entre o colector e a terra na figura seguinte?
E entre o colector e o emissor?

transistor_3_12

Solução:
A tensão de base é de 5V. A tensão de emissor é 0,7 V menor que ela, o que quer dizer que é
VE = 5 V – 0,7 V = 4,3 V


esta tensão está aos extremos da resistência de emissor, que agora é de 1 kΩ. Portanto, a corrente de emissor é IE = 4,3 V / 1 kΩ = 4,3 mA


A corrente de colector é aproximadamente igual a 4,3 mA. Quando esta corrente circula pela resistência de colector (neste caso de 2 kΩ) produz uma tensão de
IC . RC = (4,3 mA) . (2 kΩ) = 8,6 V
e então
VC = 15 V – 8,6 V = 6,4 V e
VCE = 6,4 V – 4,3 V = 2,1 V

Questões:

1. O ganho de corrente de um transístor define-se como a relação entre a corrente de colector e:
a) A corrente de base
b) A corrente de emissor
c) A corrente da fonte de alimentação
d) A corrente de colector

2. Se a resistência de base diminuir, a tensão de colector provavelmente:
a) Diminuirá
b) Não muda
c) Aumenta
d) Qualquer das opções anteriores

3. Se a resistência de base é muito pequena, o transístor funcionará na zona:
a) De corte
b) Activa
c) De saturação
d) De ruptura

4. Sobre uma recta de carga mostram-se três pontos Q diferentes. O ponto Q superior tem:
a) Ganho de corrente mínimo
b) Ganho de corrente intermédio
c) Ganho de corrente máximo
d) A corrente de colector em corte

5. Se um transístor estiver a funcionar na parte central da recta de carga, um aumento da resistência de base fará com que o ponto Q se mova:
a) Para baixo
b) Para cima
c) Fica inalterado
d) Para fora da recta de carga

6. Se o transístor estiver a funcionar na parte central da recta de carga, um aumento no ganho de corrente fará com que o ponto Q se mova:
a) Para baixo
b) Para cima
c) Fica inalterado
d) Para fora da recta de carga

7. Se a tensão da fonte de base aumentar, o ponto Q move-se:
a) Para baixo
b) Para cima
c) Fica inalterado
d) Para fora da recta de carga

8. Suponha que a resistência de base está em aberto. Então o ponto Q situa-se:
a) Na parte central da recta de carga
b) No extremo superior da recta de carga
c) No extremo inferior da recta de carga
d) Fora da recta de carga

9. Se a tensão da fonte de alimentação de polarização de base se desligar, a tensão colector-emissor será igual a:
a) 0 V
b) 6 V
c) 10,5 V
d) À tensão da fonte de colector

10. Se a resistência de base entrar em curto-circuito, o transístor provavelmente
a) Saturará
b) Entrará em corte
c) Destruir-se-à
d) Nenhuma das anteriores

11. Se a resistência de colector diminuir até 0 num circuito com polarização de base, a recta de carga será:
a) Horizontal
b) Vertical
c) Inútil
d) Plana

12. Suponha que a corrente de colector é de 10 mA. Se o ganho de corrente for de 100, a corrente de base será:
a) 1 μA
b) 10 μA
c) 100 μA
d) 1 mA

13. Suponha que a corrente de base é de 50 μA. Se o ganho de corrente for de 125, o valor da corrente de colector é aproximadamente de:
a) 40 μA
b) 500 μA
c) 1 mA
d) 6 mA

14. Se o ponto Q se deslocar ao longo da recta de carga, a tensão aumenta quando a corrente
a) Diminui
b) Não muda
c) Aumenta
d) Não sucede nada do que foi dito anteriormente

15. Um circuito em que a corrente de emissor é constante, designa-se de:
a) Polarização de base
b) Polarização de emissor
c) Polarização de transístor
d) Polarização com duas fontes

16. O primeiro passo para a análise dos circuitos com polarização de emissor consiste em determinar:
a) A corrente de base
b) A tensão de emissor
c) A corrente de emissor
d) A corrente de colector

17. Num circuito com polarização de emissor, se o ganho de corrente for desconhecido, o que não se conseguirá calcular é:
a) A tensão de emissor
b) A corrente de emissor
c) A corrente de colector
d) A corrente de base

18. Se a resistência de emissor estiver em aberto, a tensão de colector:
a) Está no nível alto
b) Está no nível baixo
c) Não muda
d) É desconhecida

19. Se a resistência de colector estiver em aberto, a tensão de colector:
a) Está no nível alto
b) Está no nível baixo
c) Não muda
d) É desconhecida

20. Se o ganho de corrente aumenta de 50 para 300 num circuito com polarização de emissor, então a corrente de colector:
a) Mantém-se quase no mesmo valor
b) Diminui 6 vezes
c) Aumenta 6 vezes
d) É zero

Problemas:

transistor_3_11

1. Desenhe a recta de carga para a figura a)
Qual é a corrente de colector no ponto de saturação?
E a tensão colector-emissor no ponto de corte?

2. Se a fonte de tensão de colector se reduzir para 10 V na figura a) que sucede à recta de carga?

3. Se a resistência de colector se reduzir a 1 kΩ na figura a) que sucede à recta de carga?

4. Se a resistência de base na figura a) duplicar, que sucede à recta de carga?
5. Desenhe a recta de carga para a figura b
Qual é a corrente de colector no ponto de saturação?
E a tensão colector-emissor no ponto de corte?

6. Se a tensão da fonte de colector duplicar na figura b), que sucede à recta de carga?

7. Se a resistência de colector aumenta para 1 kΩ na figura b), que sucede à recta de carga?

8. Na figura a) qual é a tensão entre o colector e a massa se o ganho de corrente valer 100?

9. O ganho de corrente flutua entre 25 e 300 na figura a). Qual é o valor mínimo da tensão de colector?
E o valor máximo?

transistor_3_12

10. Qual é a tensão de colector na figura a)?
E a tensão de emissor?

11. Se a resistência de emissor duplicar na figura a), qual será a tensão de colector-emissor?

12. Se a tensão da fonte de colector diminuir para 15 V na figura a) qual é a tensão de colector?

13. Qual é a tensão de colector na figura b), se VBB=2V?

14. Se a resistência de emissor duplicar na figura b), qual é a tensão de colector-emissor para uma tensão da fonte de base de 2,3 V?

15. Se a tensão da fonte de colector aumentar até 15 V na figura b), qual é a tensão colector-emissor para VBB = 1,8V?

terça-feira, 13 de abril de 2010

Livro 1 Circuitos Elétricos - On Line
Livro 2 Circuitos Elétricos - On Line
Introduction to Electric Circuits - Curso em Slides
Lessons In Electric Circuits - Livros Grátis Circuitos & Eletrônica
Circuitos AC
Teoria Circuitos & Eletrônica
Teoria & Exercícios


Série de Exercício #1
Série de Exercício #2
Série de Exercício #3
Série de Exercício #4
Série de Exercício #5
Série de Exercício #6
Série de Exercício #7
Série de Exercício #8
Série de Exercício #9
Série de Exercício #10
Série de Exercício #11
Serie de Exercício #12
Questões & Soluções

Sala de Física


Dispositivos Eletrônicos


Série de Exercício #1
Série de Exercício #2
Série de Exercício #3
Série de Exercício #4
Série de Exercício #5
Série de Exercício #6
Série de Exercício #7
Série de Exercício #8
Série de Exercício #9
Série de Exercício #10

COMPUTER DEMOS FOR ELECTRICAL ENGINEERING

O microcontrolador, hoje em dia, é um elemento indispensável para o engenheiro elétrico, eletrônico ou ainda para o técnico
de nível médio da área, em função de sua versatilidade e da enorme aplicação.

Microcontroladores PIC

Microcontroladores 8051

Apostila


Sistemas de Processamento de Áudio e Vídeo

Televisão
An Introduction to Amateur Television (Livro)
How Television Works
Televisão analógica
Televisão - Curso
Livro Grátis - The Guide to Digital Television
Arquivos PDF
Tutoriais & Padrões
Cores - Teoria
Chip Color Television RGB to NTSC/PAL
TUTORIAL - COFDM
TUTORIAL - 8-VSB
Overview - ISDB
A GUIDE TO DIGITAL TERRESTRIAL TELEVISION BROADCASTING

FUTURE TELEVISION

Brief History of the Technological Development of ISDB/ISTV

Tv Digital

História da TV
Dos primeiros inventos às primeiras transmissões da televisão, contando a história de
seu surgimento no Brasil e no mundo.

Invenção da TV & História da TV no Brasil
HISTÓRIA DA TV - COMO TUDO COMEÇOU
Artigos & História

Teoria
Microfones

Amplificadores de Potência - Tutorial

Processamento de Sistemas de Áudio

Informações, artigos técnicos e
tutoriais de áudio e equipamentos

Sites sobre Engenharia de Televisão
Áudio e Vídeo

Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET)
Advanced Television System Committee (ATSC)
Society of Motion Picture & Television Engineers (SMPTE)

Osciloscópio - Transforme seu PC em um osciloscópio. Utilize o microfone ou a entrada auxilar da placa de som como entrada de sinal. Observe o nível máximo de sinal suportado pela placa de som.

Osciloscópio + Analisador de Espectro 1 - Transforme seu PC em um osciloscópio digital e analisador de espectro para sinais na faixa de áudio.

Osciloscópio + Analisador de Espectro 2 - Transforme seu PC em um osciloscópio digital e analisador de espectro para sinais na faixa de áudio.

Frequencímetro Digital - Transforme seu PC em um frequencímetro digital. Utilize o microfone ou a entrada auxilar da placa de som como entrada de sinal. Observe o nível máximo de sinal suportado pela placa de som.

Analisador de frequência -Transforme seu PC em um analisador de potêncial espectral de áudio. Utilize o microfone como entrada do sinal que se deseja analisar. O programa se utiliza da Fast Fourier Transform (FFT) para fazer a análise das componentes de frequência contidas no sinal de áudio analisado.

Espectrograma -Transforme seu PC em um medidor de potêncial espectral de áudio. Utilize o microfone ou um arquivo de áudio no formato wav como entrada do sinal que se deseja analisar. O programa se utiliza da Fast Fourier Transform (FFT) para fazer a análise das componentes de frequência contidas no sinal de áudio.

DATA SHEET - Tutoriais On Line

Data Sheet
InteractiveDesignTools




Evite meter o dedo na tomada, por favor!

Pode parecer implicância minha, mas, ao lidarmos com tanta tecnologia à nossa volta, na forma de várias máquinas, encaixadas (ai!) em outras máquinas (ui!), parece que pouco nos importamos como essas coisas realmente funcionam. Ou como deixam de funcionar. :( :?

Bom, do que esses seres (ainda…) inanimados se alimentam? Do que precisam para continuarem funcionando fortes e saudáveis? O que podemos fazer para que nossos queridos e amados gadgets vivam por mais tempo ao nosso lado? Esta última pergunta tem uma resposta um tanto em aberto, mas as duas primeiras perguntas têm basicamente a mesma resposta: energia elétrica de boa “qualidade“.

Wikipedia - IEC 60906-1, international 250V socket
Acima: tomada monofásica internacional, adotada, por enquanto, apenas no Brasil

E o que seria essa energia elétrica e que variáveis deveríamos considerar para avaliarmos sua “qualidade“?

Primeiro, vamos definir o que é a energia elétrica:

A energia elétrica é aquele trabalho em potencial, aquela energia que é transmitida pelo movimento, pelo fluxo dos electrões livres num material condutor, ou seja, num material que permita o fluxo deles por apresentar a menor resistência possível à esse fluxo dos electrões. Fluxo esse que ocorre de uma região de maior potencial para outra de menor potencial elétrico.

Complicado? Permita-me fazer uma analogia com encanamentos de água…

Encanamento de água

Usando o bom senso, na interpretação da simplória figura acima, notamos que o boneco da figura está prestes a tomar um belo banho e percebemos que a caixa d’água está bem acima da boca de saída do encanamento, o “chuveiro“.

A caixa d’água está acima do “chuveiro” por causa da gravidade: a água “cai” da caixa, e esse líquido flúi dentro do encanamento, molhando o boneco que está embaixo do “chuveiro“, “chuveiro” esse que está abaixo da caixa d’água.

Se a caixa d’água estivesse numa altura mais elevada, a água fluiria com mais “força“, molhando o boneco mais rapidamente, ou seja, considerando o chão como a referência, o nível zero, a caixa teria, então, um maior potencial hidráulico.

Sim, e o que isso tem a ver com a energia elétrica?

Se substituirmos a água pelos electrões livres, teremos a seguinte situação: devido à diferença de potencial elétrico existente (a força de gravidade), os electrões livres fluiriam da região de maior potencial (representada pela caixa d’água) para a região de menor potencial (o boneco), através do fio condutor (o encanamento) com determinada intensidade de corrente (vazão da água, o volume do líquido que escoa num período de tempo). E isso tudo seria o circuito elétrico. :O

Certo, a analogia agora me parece razoável, tudo bem. E agora, tio Laguna, que variáveis existem na tal energia elétrica?

Antes de qualquer coisa, as tais variáveis são as grandezas elétricas, que usamos para quantificar as características desse tipo de energia. São elas:

Carga elétrica – Supondo que aqui ninguém fugiu das aulas de química, todos sabemos muito bem o que vêm a ser as partículas elementares da matéria: o electrão, o neutrão e o prótão, que compõem o antes indivisível átomo.

Wikipedia - Copper's Electron Shell

Saindo um pouco da química e indo para a física, ou versa-vice, temos que o electrão teria carga elemental “negativa“, enquanto o prótão teria carga elemental “positiva” e o neutrão deixamos um pouco de lado, já que é “café-com-leite” e não possuiria carga elétrica alguma, por convenção.

O fluxo de electrões livres (digo livres pois o material, quando bom condutor, precisa de menor energia para liberá-los do átomo e fazê-los circular na banda de condução desse e dos átomos vizinhos do mesmo material) ocorreria entre uma região “carregada“, onde haveria maior carga de electrões, para uma região “menos carregada” do circuito elétrico, onde há menor carga elétrica, visando o equilíbrio.

Certo, e daí? Qual a utilidade disso na prática?

Bom, a bateria de 6 células de um netbook como o Eee PC 1000HA, possui carga de 23,76 quilo coulombs, ou seja, a bateria, quando completamente recarregada, possui um “desequilíbrio” de 23,76 kC (ou 6600 mili ampère-hora), “desequilíbrio” esse que alimentará o elemento que dissipará a energia transmitida pela carga elétrica fornecida ao circuito, o netbook em questão. 8)

Tensão elétrica – Ela também é conhecida como força eletromotriz ou diferença de potencial elétrico e é a característica da energia elétrica que mais confunde as pessoas, mas, ao observarmos o que ela significa na prática, possa ser que esclareçamos as dúvidas de alguns.

A tensão elétrica é a energia potencial que a carga elétrica consegue transmitir à um determinado elemento do circuito elétrico. Traduzindo: o tal elemento do circuito EXIGE que determinada energia seja transmitida por aquela carga elétrica, para ele funcionar e realizar sua tarefa.

No caso do netbook em questão, ele exige que 7,4 joules de energia sejam transportados para cada coulomb que percorra o circuito. Como 23.760 coulombs serão fornecidos pela bateria, ela fornecerá 175.824 J de pura energia potencial.

Isso é muita ou é pouca energia potencial?

Bom, se essa bateria de íãos de lítio tiver sido malfeita, e toda essa energia potencial viesse na forma de uma bela explosão, ou seja, sendo diretamente convertida em energia térmica, a consumir todo o material armazenativo da bateria, do tal netbook, e, considerando que o ar seco tenha densidade de uma grama para cada litro, digamos que o estrago faria com que, em apenas um segundo, 1 metro cúbico de ar tivesse a temperatura elevada em 175,8ºC. }:)

Gizmodo - Dell Laptop explodes in flames

Voltando ao assunto principal, a tensão elétrica é medida em joules por coulomb, ou J/C. Mas, num momento de pura inspiração, um GNU/Físico visionário resolveu que seria melhor simplificar tal unidade e assim homenageou J/C como volt (V) em homenagem à pilha.

O grande problema sobre essa grandeza, a tensão elétrica, é que muita gente, em especial os péssimos tradutores, acham que podem confundí-la com pilhas, chamando-a por essa unidade, usando um termo horrível como “voltagem“. :O :sick:

Lembrando que unidade é a quantidade física, uma medida padrão de uma grandeza, não a própria. Pelo menos no idioma português, e isso vale tanto para o lusitano (electrão) quanto para o brasileiro (elétron). ;) 8)

Um detalhe a ser considerado sobre maiores valores de tensão é a rigidez dielétrica de um material isolante, que seria a capacidade de isolamento desse material, impedindo que ocorra uma provável e danosa descarga elétrica em um ser vivo, por exemplo.

A rigidez dielétrica do ar seco é por volta dos 10 kV/cm ou 1 mega volt por metro. Isso quer dizer que se você quer medir a tensão elétrica de um raio, basta você saber de que altura ele “caiu“. :) :D

Corrente elétrica – Aqui é que entramos numa antiga guerra: a corrente contínua versus a corrente alternada. Espero que você tenha conseguido ler e compreender o meu texto até o parágrafo anterior, pois assim será mais fácil compreender a diferença entre as duas correntes:

A corrente contínua nada mais é que o fluxo contínuo dos electrões livres por todo o circuito, ou seja, um determinado electrão sai da região “mais carregada” e vai equilibrar a região “menos carregada“, percorrendo, de facto, todo o circuito, visando o equilíbrio da fonte, geralmente um acumulador de carga, algo na forma de uma bateria ou pilha.

Já a corrente alternada é um conceito um pouco mais complexo, mas, basicamente, é o seguinte: sabe aquela “ôla” que as torcidas organizadas fazem nos estádios?

É basicamente o mesmo princípio, só que, no circuito em questão, gera, no material condutor, uma onda senoidal eletromagnética que carrega energia elétrica: o electrão de um átomo “cutuca” o electrão do átomo vizinho, que pertuba um terceiro electrão e assim, sucessivamente.

Como vemos no gráfico a seguir, a tensão elétrica em corrente alternada acaba variando entre + 311 e – 311 volts, por exemplo, o que nos obriga a determinar a média quadrática de tal onda senoidal, para obtermos o valor nominal dessa tensão, em comparação com a tensão em corrente contínua, a chamada tensão eficaz, que resulta no valor nominal de 220V. Existe um padrão ridículo de 110/115/127V, mas nem me darei ao trabalho de comentá-lo.

220V ~ 60Hz sine wave

Tanto faz se a corrente é contínua ou alternada, já que a grandeza corrente elétrica é uma taxa, ou seja, é a quantidade de carga elétrica que percorre o circuito, passando pelo condutor num determinado período de tempo, como a vazão da água num encanamento. Essa grandeza tem como unidade padrão o coulomb por segundo, ou C/s, mas os GNU/Físicos acabaram homenageando o cara que ligou a eletricidade ao magnetismo e assim o C/s virou ampère (A).

E a intensidade de corrente de 1 A é muito ou é pouco?

Depende de nosso referencial: se 0,1 A atravessar um coração humano, essa descarga causará grave arritmia cardíaca e uma conseqüente morte ao azarado, caso não revertida a tempo. Se o indivíduo conseguir realizar a façanha de sobreviver à essa corrente, ficará com graves seqüelas no músculo cardíaco. :(

Por outro lado, o atual padrão USB 2.0 pode fornecer 500 mili ampères (0,5 A) à uma tensão contínua de 5 volts, enquanto o padrão USB 3.0, retrocompatível, oferece a mesma tensão elétrica, mas pode fornecer até 900 mili ampères ao dispositivo à ele conectado.

Quer dizer que, se eu meter o dedo num conector USB, eu morrerei? Corrão!

:O

Não, também não é assim: você só teria risco de morte se fincasse duas agulhas no peito e as ligasse na tal interface. Nem tente isso em casa, até porque o USB não fornece a quantidade suficiente da próxima grandeza…

Potência elétrica – Não há muito mistério aqui, é só multiplicarmos a tensão pela corrente elétrica fornecida, à determinado elemento do circuito, e aí obtemos essa taxa de conversão, da energia elétrica, em energia transferida ao dispositivo que a dissipará.

Mesma tensão, mas correntes e potências diferentes

Voltando à analogia com encanamentos de água, qual dos dois bonecos acima se molharia mais e mais rápido?

O verde (à direita…) se molhará mais e mais rápido (levará uma descarga, um choque elétrico de maior potência), já que, apesar de ambos os encanamentos possuírem o mesmo potencial hidráulico (a altura, a força de gravidade, a tensão elétrica), possuem quantidades diferentes de líquido e diferentes vazões, ou seja, os canos mais grossos liberam maior quantidade de água em menos tempo (maior corrente). :P

A potência elétrica é medida em joules por segundo, ou J/s, mas, os GNU/Físicos, sempre pensando no futuro, ao homenagear os grandes nomes do passado, homenagearam a tal unidade com o sobrenome do engenheiro que transformou energia térmica em energia mecânica, rebatizando a unidade com o nome watt (W, pronuncia-se uóti).

Resistência elétrica – Nos encanamentos, essa grandeza seria melhor representada pelos obstáculos que impediriam o livre escoamento da água, como rugosidades nos canos ou mesmo entupimentos parciais, diminuindo a vazão da água, a corrente elétrica que passa pelo circuito. A resistência elétrica é medida em ohms (Ω).

Apesar de semelhante ao conceito de rigidez dielétrica, a resistência elétrica é a oposição à passagem da corrente elétrica num material condutor, ou seja, num material que possua a banda de condução e permita a passagem dos electrões livres mesmo com alguma dificuldade, enquanto a rigidez dielétrica já seria relacionada com a capacidade de o material não ser condutor, mas o sê-lo num caso extremo, sob pena de destruição do próprio material. Na analogia, a rigidez dielétrica seria semelhante à vazamentos dos canos, que molhariam o que não deveria ser molhado. :) :D

Qual seria a relação entre a resistência elétrica e a rigidez dielétrica?

Raios

Isso mesmo, o raio. Esse fenômeno atmosférico é constituído por uma enorme descarga elétrica, em corrente contínua, entre nuvens carregadas de electrões e a Terra, que seria o referencial zero.

Quando um pára-raio é instalado em cima de uma edificação e instalado adequadamente (com um bom condutor de proteção, isolado da construção e ligado à uma haste de aterramento bem inspecionada…), o pára-raio torna-se o referencial zero, a região de menor potencial elétrico, e evita que o relâmpago cause maiores problemas. :) :D

Podemos dizer que o pára-raio diminui a rigidez dielétrica a ser vencida entre a Terra e a nuvem, enquanto o condutor de proteção dele deve ser a menor resistência possível entre o pára-raio e a haste de aterramento, fincada na Terra.

Agora posso explicar sobre a tomada lá em cima;)

Aquela tomada, para tensão em corrente alternada de instalações monofásicas, será a adotada no Brasil e é compatível com a maioria dos plugues dos aparelhos eletrodomésticos à venda, se não todos. Essa tomada monofásica foi a aplicação direta do IEC 60906-1, originalmente proposto para ser o substituto do que se convenciona hoje como a tomada européia, que seria uma mistura do padrão L italiano e o padrão J suiço, incompatível com ambos, apesar da pinagem igual:

O condutor fase seria aquele de maior potencial, enquanto o condutor neutro seria aquele de menor potencial, ambos fornecidos pela concessionária de energia da região onde se encontra sua residência. Juntos, eles podem alimentar qualquer qualquer equipamento monofásico, desde que ele não possua carcaça metálica e esteja bem dimensionado para a tal tomada.

Já o condutor de proteção é o referencial zero e serve para equipotencializar a carcaça metálica de um determinado aparelho à terra, vulgo “aterrá-la“. Isso é necessário para que uma corrente de fuga não eletrocute alguém que tenha contato com a carcaça metálica de tal aparelho, já que a corrente de fuga teria maior facilidade de fluir para a Terra através do condutor de proteção, do que pelo corpo de qualquer ser humano, mesmo molhado, no caso de a instalação contar com o DDR.:?

DDR no caso é o Dispositivo Diferencial Residual, que desliga o fornecimento de energia elétrica no caso de a corrente de fuga exceder um determinado valor, causado pelo contato humano com o condutor fase.

Seja como for, contando ou não com o DDR, evitem colocar o dedo na tomada, pessoal. ;) 8)